terça-feira, 3 de maio de 2011

Fotografar os mortos - um hábito teuto-gaúcho

Há muitas histórias interessantes quando se fala sobre imigração alemã no sul do Brasil. As noivas de preto, a vinda de nobres, a simbologia nos cemitérios... mas um dos assuntos mais interessantes e envolventes é o hábito teuto-gaúcho de fotografar seus mortos. As regiões das primeiras ocupações alemãs, sobretudo Vale dos Sinos e Vale do Caí, a partir da segunda metade do século XIX, eram conhecidas como Alt Kolonie. Velhas colônias, já que as famílias, em busca de melhores oportunidades de vida, decidiram emigrar para o Vale do Taquari, para a Serra, para a região Oeste do Estado... entre outras. Devido a distância muitos parentes nunca mais puderam se reencontrar. É aí que surge o hábito de fotografar os mortos e enviar as fotos para os parentes distantes, para que tivessem uma última lembrança do ente querido. E com o passar das gerações esse costume caiu em desuso e os descendentes queimaram boa parte dessas imagens de seus ancestrais nos esquifes... apesar de serem fotos excêntricas e pouco apreciadas, elas nos contam um pouco de nossa história. Segue algumas imagens dos falecidos.

Um comentário:

  1. Prezado Felipe!
    Muito interessante seu blog, e valiosa a coleção de fotos que “falam por si”.
    Quanto a fotografar mortos, na realidade o contexto é bem mais amplo do que ser um costume teuto-gaucho.
    É verdade, os imigrantes em sua nova pátria, introduziam práticas em voga na Europa, mantendo-se atualizados. Também neste caso, uma prática que também ocorria na Inglaterra e América do Norte. Fotografia era um processo ainda caro, e o convívio com mortes em família era bem maior do que hoje, seja pela expectativa de vida mais baixa, seja pelas altas taxas de mortalidade infantil. Assim, se não foi possível fotografar em vida, aproveitava-se a chance de uma última homenagem (uma das situações). Outro estímulo é que entre os fotógrafos, houve especialização em “fotos post mortem”, chegando a anunciar seus serviços, que poderiam ser feitos nas casas ou nos estúdios. Caiu em desuso, e se na época havia sensibilidade e espiritualidade no gesto, hoje parece coisa mórbida e vulgar. A conotação que há hoje, é de banalizadas imagens de bandidos mortos, perfurados por balas. Um aspecto que talvez seja peculiaridade teuto-gaucha é a de serem fotografados nos caixões, e não de forma preparada para simularem estarem ainda vivos, como se vê em blogs na internet. Há muitos links relativos ao assunto, mas mostrando a prática na Inglaterra e de modo geral:http://www.webhistoryofengland.com/?p=414,
    outra http://vv.arts.ucla.edu/terminals/meinwald/meinwald3.html, mais http://www.ancestry.com/learn/library/article.aspx?article=11149 entre tantos.

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